Tardes loucas de uma mulher casada

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Sabia bem porque estava assim; porque queria! Não podia agora fugir com o rabo à seringa; tinha mais era que me aguentar e cumprir com o meu dever de mulher.

Ajudou o tinto que ele abriu; sacana sebe bem o efeito que dois copos exercem sobre mim, e o que três exercem sobre as minhas coxas. Como ele costuma dizer zanga-as uma com a outra e afasta-as cada uma para seu lado.

Deixei rolar, afinal uma mulher é uma mulher, certo?

Por me ter sentido assim para o choucha, depois de levantar a mesa, chegou-se por trás de mim e apoiou-me as mãos enormes e mornas nos meus ombros. O seu sorriso dizia-me o quanto sabia no que aquele toque resultava.

"Ai mãe..."

"Que queres tu agora à senhora, deixa-a lá estar sossegada, que ainda lhe dava uma coisa se visse bem o que te está para acontecer."

"E o que é que me está para acontecer?"

"O mesmo que acontece a uma lagarta!" Acentuou a massagem e fez-me suspirar. "Tu aqui, agora és como uma lagarta, uma Lady; e as minhas mãos vão iniciar a tua metamorfose naquilo que te vais acabar de transformar no quarto, como numa linda e deslumbrante borboleta, na mais fascinante das putas."

"Ai então tu queres-me puta, é isso?" Fiz-me de novas, exagerando na minha admiração, como se dourado dos meus canelos me tivessem efetivamente retardado a compreensão. "E para que é que tu quererias uma coisa dessas?"

"Para fazer cá umas coisas que me ocorreram!"

"Ohh! O quê?!"

"Umas coisas... não dão para explicar. Eu depois mostro-te."

"Então, mas... e achas que uma puta é que é boa para fazer essas... coisas de que falas? Porquê uma puta? E uma puta como, fina?"

"Não! Fina, não; reles. Uma daquelas bem ordinárias capazes de tudo!"

"Que horror. E queres a tua mulherzinha assim?"

"Sim!"

"Então e depois? E se me acontecer o que acontece às borboletas? Elas não se remetamorfozeiam novamente em lagartas, pois não? E se eu nunca mais deixar de ser puta?"

"Deixas, deixas; quando saíres do quarto, voltas a ser uma Lady!"

"Ohh... que chatice."

Rebentámos numa gargalhada incontrolável que o nosso olhar mútuo fez esmorecer. O Nando pegou-me mo pescoço e inclinou-se. Parou com a cara a centímetros da minha e fixou-me intensamente. A sua mão quente, que me agarrava forte a base da nuca, o lume do seu olhar e o calor do vinho, tudo se uniu para me derreter em desejo que senti aflorar na face e humedecer na intimidade.

E é engraçado como o corpo e principalmente a mente duma mulher é; talvez por estas e por outras é que a Rosa Mateus acredita e defende que somos nós o sexo forte; uma mulher aguenta tudo! E uma puta, em última análise, não é outra senão uma mulher com M grande. Por mais que passe um dia inteiro a perceber como um regimento de marujos regressados duma comissão de ano e meio em alto mar matam as saudades de mulher, e arranja sempre forma de dar um sprint final se o marujo tímido e envergonhado lá mudar de ideias e afinal também quiser a sua lasca da febra, não seria eu agora que desgraçaria o género e me armasse em bonequinha com frenicoques e não me toques!

Englobei a sensação de maceramento e dorido que me acompanhara durante o resto do dia, e vi-a como ajuda a entrar no papel em que o meu marido me queria; afinal, puta que é puta, deve passar a vida inteira a sentir aquela sensação.

"Nando; amor! Sabes que há um ditado muito antigo, acho que é egipcio ou bretão, ou se calhar é azteca -- que é tudo a mesma coisa -- que diz que devemos ter cuidado com aquilo que desejamos; às vezes acontece!"

Levantara-me e acabei de falar já de pé, a olhá-lo nos olhos e mordi o lábio inferior marota, e passei-lhe a mão ao de leve no seu triângulo dos prazeres, dando-lhe o tempo suficiente para acusar o toque e reagir-me da ponta dos dedos. Tenho a certeza de que perdeu ali no meio um dos passos corretos na sequência inspira-expira-inspira-expira... e até se engasgou. Deixei-o a ver se percebia ao certo o que se tinha acabado passar ali, enquanto me viu afastar a rebolar sensualmente o rabo da sua perdição.

Quando chegou ao quarto, depois de fazer a sua ronda habitual pela casa a verificar as portas da rua, eu já tinha posto o nosso CD a tocar baixinho. Há coisas que aborrecem, mas as nossas músicas são as nossas músicas. E o Purple rain, por mais batido, cliché, velho ou o que lhe quiserem chamar, será sempre o nosso Purple rain de sempre. Eu despira-me e estava sobre a cama tapada só com o lençol. Uma perna esticada e a outra fletida saia e eu abanava-a dum lado para o outro explicitamente sugestiva da minha propensão a abri-la. Ele subiu para a cama e eu fi-lo parar com o pé, apoiado no seu peito.

Apanhei-o de surpresa e não o disfarçou. Pensou que eu estivesse a brincar e tentou forçar-se, em vão pois só me fez ser ainda mais veemente na minha intenção:

"Diz lá então, querias uma puta não era?!"

"Sim!" A voz tremida não enganava. Ele gostara do que experimentara na nossa noite anterior, e vinha à procura de mais.

"Então prova-o!"

"Como?"

"Faz-me puta. A tua puta!"

"Como?!"

"O que é que uma puta faz durante o dia?"

"Fode."

"E como é que fode?"

"Como uma louca."

"E era assim que me querias?"

"Ss...im!"

"Ss...im? O que é que é isso? Fala, como um homem!"

Ele parecia não me reconhecer. Caramba, até eu não me reconheci!

"SIM!"

"Assim sim! Então vê como uma puta que fodeu o dia todo está ao fim da noite!"

Ele puxou o lençol lentamente, e o seu deslizar pela minha pele ao descobrir-me as mamas, a barriga, e por último a minha perna esticada -- que eu entretanto fui abrindo -- obrigando a ponta do tecido acabar por me roçar entre as coxas e no meu clitóris já intumescido, fez-me arrepiar desde a nuca até à ponta dos dedos dos pés.

Esperei que ele caísse de boca, esfomeado, para lhe apoiar as minhas mãos bem abertas na sua cabeça, guiando-o e puxando-o leve mas determinadamente, e só depois fechei os olhos.

Perdi-me novamente num mundo como o que a Rosa Mateus descreve, com visões surreais como se do fundo dum mar onde por entre algas ondulantes vislumbrasse uma das suas passagens em que provava o mais divino dos prazeres: o devorar em absoluto abandono pela boca dum marido ensoberbado pelos cornos!

Tinha que aproveitar o estado "quero-lá-saber" em que ele estava para mandar todo o carvão que conseguisse para aquela fornalha!

"Gostavas, não gostavas? De me comer assim depois de eu ter estado com outro homem?"

Uma réstia de dignidade de macho embrutecido ainda tentou reagir, e eu acabei por afogá-lo numa nova vaga de cio em estado liquido que senti escorrer de mim diretamente para a sua boca.

"Gostavas. Eu sei que gostavas, não precisas de me responder doutra forma; eu já percebi."

Presenteei-o vindo-me e contorcendo-me como uma cabra alfeira. Saber perfeitamente que era daquele momento que ele estava à espera para vir rentar o que o barrava de vir com todo o seu poder e pujança para me vergastar mental, e fisicamente devastar pelo desaforo, ainda acabou por me despoletar uma última viagem -- mais rápida é certo -- aos arredores do Olimpo.

Apanhou-me naquele momento em que tudo começa a parar de rodopiar, mas em que ainda estamos zonzas. Não reagi; não o conseguiria mesmo que o quisesse, quando ele se enterrou furiosamente em mim e me demoliu a intimidade em estocadas de deleite que, em crescendo, me levaram a acompanhá-lo num explosivo e memorável como os são sempre até ao próximo, orgasmo simultâneo!

Quando por fim nos separámos, e eu senti por fim aquela lancinante dor nos tendões das virilhas que uma mulher sente depois de bem montada -- sinal derradeiro de que o foi efetivamente! -- e me aninhei nos seus braços, lembrei-me daquele casal de personagens do Ribatejo Ardente. Quando a mulher assim se aninhou também e adormeceu a pensar como diria o que queria dizer ao marido.

À falta de mais coragem, disse-lhe baixinho.

"Eu amo-te. E é bom ser a tua puta."

"Eu sei. E eu também te amo!"

***

Como sabem, a vida é feita de altos e baixos, e não como designadamente nos contos -- sejam eles de fadas ou de fodas! -- passada aquela euforia inicial, a minha líbido pôde por fim, como uma anaconda empanturrada com algum incauto tapir, gozar o seu lauto repasto e sossegar meio adormentada.

Mas dormente não é sequer adormecida, e muito menos ainda morta!

Voltei à minha rotina diária de volta do texto, com a motivação acrescida da consciência de que aquilo era o que eu efetivamente queria fazer profissionalmente. Nunca me apercebera da importância e responsabilidade do trabalho do editor no resultado final que irá para as prensas e acabará nas mãos do leitor. O autor, quando escreve, fá-lo a quente, e por vezes não se percebe que tem a mesma palavra por exemplo repetida dois ou três parágrafos adiante. Sabendo que o tempo que os separa, por vezes chega a ser horas, é normal. E aqui entrava eu, a limar esta e aquela aresta; a tirar esta esquina e aquele buraco e a tornar a leitura mais fluida. Esta é aliás, quanto a mim, a melhor definição para o meu trabalho: fazer a ponte entre o -- neste caso a -- autora e o leitor.

Fui revendo capítulo a capítulo, e conforme os revia enviava-os à Rosa, que por sua vez ou concordava com as alterações sugeridas ou então reescrevia ela tendo em conta a minha sugestão.

Se já gostara dela quando a lera, fui gostando ainda mais a cada dia que fui trabalhando com ela, e sentia nitidamente que o sentimento era recíproco.

Ao fim de duas semanas, tínhamos o trabalho concluído. Pude por fim descansar um pouco.

Ter-me embrenhado tão a fundo na história daquele casal, cujo marido se assumira como o mais dedicado, apaixonado e assumido corno-manso, e vivia para proporcionar à mulher as mais indescritíveis -- mas que a Rosa Mateus descrevia ao mais detalhado pormenor -- noites de sexo puro e duro selvática e bestialmente barradas com o mais verdadeiro amor. Sendo aquele ministrado pelo amante e este pelo marido, que enquanto a mulher servia de pedaço de carne para foder à infinita tesão do cavaleiro, a beijava, lhe pegava na mão e a segurava nos braços para a ajudar a suportar cada estocada com que aquele monstro sexual a fazia perder a noção do tempo e do espaço de tanto prazer a que era sujeita.

Nunca esquecendo a prova maior de amor que um marido pode dar à sua mulher. Vir imediatamente após a devastação, dar o divino consolo das carnes arrasadas com os mais ternurentos e apaixonados linguados de quatro lábios e uma só língua, em que a única recompensa que ele tinha era os gemidos apaixonados da mulher e o creme de macho com que o amante dela a recheara, e lhe assegurava sem a menor dúvida que a mulher fora efetivamente bem tratada como merecia; como a Rainha das Mulheres e Imperatriz das Putas!

Não querendo plagiar a Rosa, mas o que ela dizia com "...milhares de imagens, tivessem penetrado na sua mente, transformando-se em sementes de fantasia que a deixavam incendiada", era exatamente o que eu sentia quanto fechava os olhos e pensava no enredo do "RIBATEJO ARDENTE".

Conhecendo-mo como me conheço, sabia perfeitamente que aquelas sementes também em mim ficariam plantadas e mais hoje, mais amanhã, germinariam também e dariam frutos.

Cabia-me a mim, e aos infinitos arte e engenhos duma mulher, fazer com que também na cabeça do Nando essas sementes germinassem. Sorri para mim mesma sabendo como, no caso específico da sua cabeça, o que delas germinasse assumiria a forma engraçada dum valente par de cornos; cabia-me a mim a responsabilidade de fazer com que, em vez de vergonha, ele viesse a desenvolver orgulho e determinação de cada vez que se consciencializasse do tremendo peso que tais ornamentos representariam.

O que eu queria não era um affair, ou uma aventura extramatrimonial, isso além de vazio e estupidamente fácil, não me traria o que eu realmente desejava: aquele boost na nossa intimidade e cumplicidade que -- tinha a certeza -- se traduziria num galvanizar do nosso amor.

Não podia, pelo menos para já, pensar em envolver alguém conhecido, teria que ser alguém de fora. Alguém saudável e que não levantasse objeções a fazer o que fosse preciso para poder participar duma aventura assim no seio dum matrimónio consagrado pelos votos de Deus e dos homens. Teria que ser alguém disposto a provar, com toda uma bateria de exames médicos que dele, a única coisa que jorrasse, seria esporra a montes, tesão às carradas e luxúria desmedida!

Comecei pelo mais óbvio terreno de caça: o Facebook!

E em nenhum outro caso se nota a superioridade da mulher face ao homem. Isto sem tirar pedaço ao que, em qualquer bar, discoteca, trabalho, rua ou vizinhança, se passa em termos de possibilidades de engate, mas aí a presença física sempre atenua um pouco os avanços e modera as intenções. Mas ali, onde por mais que os homens, taditos, se achem no papel de caçadores, são eles as presas.

Pois é querida Rosa, nem mais. "É nisso que assenta a minha convicção de que uma mulher não se conquista; entrega-se. É como um jogo, só que a mulher parte sempre com a vantagem de ser ela a decidir se joga ou não."

Escolhi a minha presa. Um J. G.; polícia, trinta e poucos anos, prontamente disposto a enviar as mais esclarecedoras fotos, que deixavam adivinhar a melhor das performances na hora H, tanto pelo corpo musculado como pelo seu admirável apetrecho. Meti conversa com ele, e expliquei-lhe pormenorizadamente os meus planos.

Achou que era esmola a mais, e exigiu um encontro. Engoli em seco quando ele o escreveu. Pensei um pouco e decidi que, se ganhasse a coragem, quando fosse novamente a Lisboa, me encontraria com ele.

Deu-me o seu número de telefone, e assim ficou combinado.

Mas é impressionante o poder da natureza e terríveis os efeitos do proibido. Tentei, através da sua "conversa", aperceber-me se seria interessante o suficiente para o plano que eu orquestrei: fá-lo-ia passar por um "cliente", que me enviasse um texto para análise, e avançaria a partir daí. Pela sua maneira de escrever, notava-lhe o necessário, e marquei o encontro com ele.

Na semana seguinte, na esplanada do Nicola, em pleno Rossio a meio da tarde, a tremer que nem varas verdes, vejo-o chegar. Tinha combinado esperá-lo se pé, junto a uma caixa daquelas metálicas da PT, das linhas telefónicas uns metros desviada da esplanada, e topei-o ao longe, vindo da rua Augusta.

Uma camisa justa evidenciava o seu físico bem trabalhado, e as calças de ganga de marca, assentavam-lhe como só as calças de marca o fazem; perfeitas. Era mais alto do que o imaginara, os dez centímetros que tinha a mais que o meu marido não eram só os dez centímetros que à partida eu visualizara, faziam-no um muito mais imponente espécime masculino. A materialização duma fantasia faz-nos tomar consciência do que realmente estamos a fazer, e a dualidade de sentimentos é viciante. Face à razão, o "quero lá saber", e o "Meu Deus o que é que eu aqui estou a fazer?" têm um efeito simplesmente corrosivo, e naquela esplanada não foi diferente.

O J.G. parou, olhou em volta com o seu olho treinado de polícia de intervenção, e tive a certeza de que soube que era eu, não obstante a minha aparente alheação àquilo tudo que se estava a passar no meio do reboliço. Levou a mão ao bolso, tirou o telemóvel e olhou para ele. Como um lince olhou direto para mim nesse preciso momento, a apanhou-me. Sorriu, dirigiu-se para mim, e eu simplesmente não consegui disfarçar. Pela minha cara teve a confirmação que ainda lhe faltava. A transpirar uma autoconfiança que me fez tremer toda, nem esperou que eu o convidasse, puxou uma cadeira e, antes de se sentar estendeu-me a mão para me cumprimentar.

O toque dele, forte e suave, surpreendeu-me. É impressionante como a nossa sensibilidade se adequa ao que se passa. O simples facto de eu saber que a razão de ali estar era avaliar se ia para frente com a minha eventual ida para a cama com ele, deixou-me permeável ao um novo nível sensorial, que me estimulou o que normalmente não estimula no dia a dia quando tocava outras pessoas.

"Olá, sempre vieste!"

"Tinhas dúvidas..."

"Já me aconteceu antes, acabar numa caça aos gambuzinos. É sempre um risco que se corre, e sem correr riscos, pouco se alcança, não é?"

"Tens razão!"

"E?"

"E o quê?"

"O que achas de mim?"

"O que achei quando falei contigo pela primeira vez. Mesmo antes de te ver como nem a tua mãe alguma vez te viu! Ou pelo menos assim o espero..."

Sorriu, meio envergonhado. "É verdade, ela nunca me viu assim... tão animado como eu estava quando me tirei as fotos que te mandei!"

"Vocês homens, realmente são todos iguais. Tu não acreditas mesmo que não é aquilo que faz com que algo venha a acontecer, pois não?"

"Acaba por ser, ou duma maneira ou doutra, acaba por assegurar a nossa "disponibilidade" para a ação."

"Whatever... adiante, percebeste o meu plano?"

"Percebi. E podes contar comigo."

"Só quero que mantenhas isto bem presente: eu não quero mandar umas por fora. Aquilo que eu quero de ti -- caso aceites -- é no fundo usar-te como um objeto sexual nosso. vais ser um Dildo com pernas e cabeça, que vais servir para o que te dissermos para servires! Se isto te fere o teu orgulho de macho, ou te deixa intimidado, pensa bem porque não quero a mínima confusão. Já basta o que isto pode provocar."

"Eu entendi perfeitamente. Eu também não quero a mínima confusão com a minha namorada, e quero muito participar numa cena destas. Em relação às análises, eu também vou querer ver as vossas."

"As minhas sem problema; as do meu marido é que vai ser mais difícil..."

"Tu confias nele?"

"Acima de tudo, mas isso vale o que vale, não é? Ele também confia em mim e olha-me aqui, a falar o que estou a falar contigo."

"Tens razão..."

Conversámos mais um pouco, eu tinha que apanhar o comboio das 15:48 para estar no entroncamento por volta das cinco e pouco a tempo de ir buscar meu sobrinho à escola, e ele acompanhou-me a Sª Apolónia no metro. Foi comigo até à plataforma e eu sentia a sua necessidade por alguma coisa que lhe assegurasse que não tinha perdido o seu tempo. Faltavam dez minutos para a hora do comboio, e mandei tudo às urtigas quando o puxei para dentro da carruagem vazia que já lá estava à espera. Dei-lhe o que ele precisava: uma oportunidade de me tocar. Chegou-se atrás de mim e inclinou-se para me beijar o pescoço, apanhando-me o cabelo todo numa mão cheia. Fraquejei nos joelhos e encostei-me mais a ele. Sentia-o pronto por mim, e toquei-o.

Isso fê-lo voltar-me dentro dos seus braços grossos e sem eu saber muito bem como estava a ser beijada com uma volúpia quase obscena por outro homem que não conhecia de lado nenhum, e aquele beijo, mais do que as suas mãos omnipresentes por todo o meu corpo, deixaram-me suficientemente descontrolada ao ponto de ainda me ter passado um pensamento pela cabeça de não apanhar aquele comboio e apanhar outro mais tarde.

Valeu-me ter entrado uma senhora mulata, que discretamente fingiu que éramos transparentes e fez-me ganhar consciência de que podia muito bem ser alguma das centenas de pessoas que todos os dias, a toda a hora apanham o comboio de e para o Entroncamento.

Com o sabor do seu tesão na minha boca, pela forma como ele mo fizera sentir com aquele beijo de tirar o fôlego até à mais experiente mergulhadora, afastei-o. Empurrei-o para a porta e evitei olhar sequer para ele antes que estivesse lá fora.

Não ficou à espera, foi embora fazendo o gesto de teclar, indicando que falaríamos pelo Facebook, e fiquei a ver aquele rabo de sonho a afastar-se.

Minha Nossa Senhora das Perdições! O que é que eu tinha acabado de fazer? Ainda bem que fora tudo planeado para não ter mais tempo; se doutra forma tivesse sido, o que era suposto ter sido um casting teria sido logo a filmagem duma superprodução! E com mais sequelas do que a Star Wars!

Nesse dia ainda, pus o plano em ação. Referi por acaso aquele novo "cliente" que queria deixar em livro a realidade dum polícia de intervenção, o que passam nas operações pelos bairros problemáticos da periferia da grande Lisboa, e disto e daquilo, referindo-o sempre com o distanciamento necessário para parecer uma conversa casual, mas ao mesmo tempo que o Nando se lembrasse dele.