A HIstória de Meia Noite

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Capítulo 3

No dia seguinte, Meia-Noite começou passando as roupas que lavara no dia anterior. Estava quase acabando quando Sílvia veio chamá-la. Estava de cara fechada; não disse nada, e levou Meia-Noite até a sala da diretora. Entraram: um homem alto, forte, de uns quarenta anos, terno escuro, estava sentado na cadeira em frente à mesa da diretora.

"Pode sair, Sílvia..." disse Maria Clara. E, voltando-se para o homem: "É esta."

O Dr. Carlos observou atentamente a garota, que, embaraçada, permanecia de pé. Instantaneamente, decidiu que pagaria por ela o que a diretora pedisse: o corpo magro, a pele brilhante, os dentes perfeitos, as ancas estreitas, prometiam horas de prazer a quem soubesse treinar aquela coisa linda. Fez um sinal para Maria Clara: "Quanto?"

"Sete," disse a diretora, prendendo a respiração.

O homem tirou um talão de cheques do bolso e preencheu uma folha, entregando-a à diretora. "Ela tem bagagem?" "Não, disse a diretora." E, voltando-se para Meia-Noite:

"Este senhor é o dono da fazenda que lhe falei. Você quer ir?"

"Quero."

"Muito bem. Mas se você aprontar, e ele devolver você para nós, você vai ver... Não gostamos de gente desobediente!"

"Eu não vou aprontar, não senhora." Eles não precisavam saber por que... mas ela queria ficar o mais longe possível do Alemão.

"Então, vamos embora.," disse o homem. "Você tem sapatos?"

"Tenho meu tênis."

"Então vá buscar." Meia-Noite se retirou e foi ver Sílvia, que lhe entregou sua roupa e os tênis. Estava muito zangada: era a terceira preta que o homem vinha buscar, estragando seus planos. Meia-Noite se trocou e voltou ao saguão. O homem estava em pé, esperando. Tirou do bolso uma nota de cem reais e chamou Sílvia: "Você merece isso, acho... quero que sejamos amigos." O rosto da monitora se iluminou. "Obrigada," disse. "Estou às ordens para o que o senhor precisar!" e colocou o dinheiro dentro do sutiã.

O portão de ferro se abriu e Carlos saiu com a moça que acabara de comprar por sete mil reais. Tomaram um táxi e se dirigiram ao aeroporto. Meia-Noite nunca tinha entrado num avião: segurou-se forte quando o aparelho começou a taxiar para a decolagem, mas, uma vez no ar, sentiu-se mais tranqüila. O fazendeiro estava numa poltrona próxima, lendo documentos e o jornal; a viagem durou duas ou três horas, e Lucimeire adormeceu. Acordou quando estavam prestes a pousar: do alto, viu campos cultivados, barracões onde deviam morar os colonos, e uma longa pista de pouso, na qual o avião desceu sem bater.

Saíram do aparelho e foram recebidos por uma japonesa alta e magra, ao lado de uma caminhonete.

"Olá, Keiko," disse o fazendeiro. "Vamos... você atrás," disse, apontando a parte aberta para Meia-Noite. Ela subiu, Keiko pôs-se ao volante e o fazendeiro acomodou-se no banco de trás. Rapidamente, chegaram à parte social da fazenda: uma casa grande, avarandada, com um vasto gramado em frente. Um poste, ao qual estava fixada uma barra horizontal com argolas nas pontas, erguia-se no meio do gramado, mas Meia-Noite não sabia ainda para o que servia: era um tronco. Keiko desceu e abriu a porta para o fazendeiro, que se dirigiu para a casa. "Cuide dela. Quando estiver pronta, daqui a alguns dias, me avise."

"Você está na fazenda do Sinhô," disse a japonesa olhando para a pretinha. "Você vai trabalhar aqui, com suas companheiras, e vai obedecer ao que lhe mandarem fazer, ouviu?" Meia-Noite assentiu com a cabeça. "Agora venha, vou lhe mostrar onde vai ficar."

Seguiram por um caminho de pedras até uma espécie de galpão retangular. A japonesa abriu a porta, que estava fechada com um grande cadeado, e entraram. As paredes do galpão estavam divididas em pequenas celas com palha no chão e porta gradeada, cada qual com seu cadeado. Keiko abriu uma das celas e disse:

"Esta vai ser a sua casa. Entre e tire a roupa."

Um tanto espantada, Meia-Noite obedeceu. Keiko pegou as roupas e o tênis e ordenou à negrinha que a acompanhasse. No fundo do galpão, havia uma porta: ela a abriu, e entraram numa pequena saleta forrada com ladrilhos do chão até o teto. Num dos cantos, havia um vaso, e no outro uma bica de água.

"Você vai ficar aqui por uns dias, até se acostumar."

"Minha nossa!" disse Meia-Noite. "Aqui? Sozinha?"

Keiko sorriu. "Sim," e mostrou uma janelinha na porta. "A comida vem por aqui. Você lave o prato e depois entregue, quando vier alguém com a refeição seguinte." E, sem dizer nada, fechou a porta por fora. Meia-Noite sentou-se no catre, perplexa. Então era isso a fazenda? Mas onde estavam as outras pessoas? Olhou em volta: impossível sair dali. A porta era pesada, e, embora não soubesse, à prova de som. O silêncio a tranqüilizou: deitou-se no catre, nua como estava, e adormeceu.

Uma voz a despertou: entrava por um alto falante que não havia notado.

"Pretinha, agora você pertence ao Sinhô. Pretinha, agora você pertence ao Sinhô.," a voz repetia pausadamente, sem interrupção. Meia-Noite ouvia espantada. "Repita: agora eu pertenço ao Sinhô," disse a voz Meia-Noite repetiu o que lhe mandavam dizer. E isso durou duas horas... Imperceptivelmente, a garota começou a acreditar no que lhe dizia a voz. E repetia: "Eu sou do Sinhô... eu sou do Sinhô..."

Passaram-se dez dias assim. Meia-Noite dormia, acordava, ouvia a voz dizendo cinqüenta vezes a mesma coisa e depois lhe ordenando que repetisse; obedecia, e a voz silenciava depois de uma hora daquilo. Mais tarde, tudo recomeçava, sempre do mesmo jeito. Ela era alimentada, fazia as necessidades no vaso, lavava-se na bica, dormia. No dia seguinte, o mesmo ritual... e dia após dia... e ela repetindo...

Meia-Noite estava passando por uma lavagem cerebral extremamente bem feita. As frases eram calculadas para convencê-la de que, sendo negra, devia obedecer à ordens que recebesse; que deveria orgulhar-se de estar ali, e de não ser mais uma preta sem rumo na vida; que o trabalho devia ser bem feito; que o Sinhô e Keiko deviam ser respeitados e servidos... Dez dias daquilo, sem interrupção... ouvir.. repetir... ouvir.. repetir...

Capítulo 4

Um ruído na porta: a japonesa estava ali de pé na sua frente. Meia-Noite lembrou-se de uma das frases que ouvira e se ajoelhou. A japonesa passou uma coleira de couro pelo pescoço da garota e a fechou com um cadeado; estendeu-lhe uma camiseta regata que chegava até os joelhos e lhe ordenou que vestisse aquilo. Meia-Noite obedeceu, olhando para o chão, como repetira vezes incontáveis durante aquele dia. Keiko a observou: "Acho que está pronta para o Sinhô. Venha comigo!"

Ela a seguiu, silenciosa. Passaram pelo caminho de pedras, e ela sentiu a aspereza nos pés descalços. Cruzaram com duas outras moças, igualmente negras, vestidas com a mesma camiseta, que abaixaram a cabeça quando a japonesa olhou firme para elas. Carregavam na cabeça, graciosamente, cestos com verduras e frutas; entraram pela porta da cozinha e desapareceram. Keiko chegou à varanda e fez sinal para que a pretinha limpasse os pés, o que ela fez. Entraram na casa: uma sala espaçosa, com gravuras na parede, sofás confortáveis, algumas luminárias de pé. Tudo estava limpo e bem arrumado. Uma moça negra, de joelhos, encerava o chão de tábuas; da cozinha, vinha o cheiro de café fresco, pois era cedo ainda.

Meia-Noite viu entrar o homem que a trouxera para aquele lugar. Estava vestido com um roupão azul e calçava chinelos macios. Com um sinal, dispensou a japonesa, que se retirou silenciosamente. O fazendeiro examinou Meia-Noite cuidadosamente: fez com que abrisse a boca, apalpou os seios pequenos por baixo da camiseta, virou-a, sentiu a pele das coxas e da bundinha. A negrinha não dizia nada: mentalmente, repetia como a voz lhe ordenara: "sou do Sinhô.. sou apenas uma pretinha do Sinhô..."

Satisfeito, o fazendeiro sentou-se à mesa e tocou uma sineta. Uma negra alta, vestida da mesma maneira, com a mesma coleira justa, trouxe o café numa bandeja e o serviu. Calmamente, sem dizer nada, o Dr. Carlos sorveu seu café e comeu torradas; a um sinal, a garota lhe serviu suco de laranja. Ele bebeu o suco e se levantou.

"Vamos," disse a Meia-Noite, "suba a escada." Ela obedeceu; ele a seguiu, alguns degraus atrás, olhando as solas brancas dos pés e a bunda que aparecia sob a camiseta. Chegaram a um corredor onde davam várias portas; o fazendeiro abriu uma delas, que era a do seu quarto, e tirou o roupão. Estava usando apenas uma sunga estreita; Meia-Noite observou o corpo forte, queimado de sol, com pelos no peito. O fazendeiro sentou-se e disse:

"Eu tirei você da FEBEM; agora você vai me servir, como suas companheiras. Entendeu?"

Meia-Noite fez que sim com a cabeça. Ajoelhou-se, tirou a sunga do dono e começou a chupar. Ele dirigia a cabeça dela, levando-a ora mais para a ponta, ora mais para o saco; fechou os olhos e deleitou-se com os lábios grossos e hábeis da pretinha. Brincava com o cadeado na nuca, sentindo a língua sedosa deslizar sobre o pênis duro. O cheiro de negra nova sempre o excitava; tinha ali cerca de trinta delas, trabalhando nas suas plantações e cuidando da casa.

"Basta," disse. "Suba na cama... de quatro, isso! Empine o bumbum!" Slapt, uma palmada estalou na pele lisa e firme. Meia-Noite não se mexeu; ele tocou a sola dos pés, sentindo a curva delicada e os dedos bem feitos. A garota tinha os ocos do tornozelo bem delineados, canelas finas de negra trabalhadora, e era uma delícia completa. "Valerá os sete mil que paguei por ela," pensou o fazendeiro, encostando a ponta do pau nos lábios da vagina.

"Você é virgem, eu vi! Mas logo não vai ser mais: vai ser uma das pretinhas que tiveram o privilégio de sentir meu pau nelas!" disse em voz calma. Meia-Noite sentiu a ponta dura do caralho do dono roçando em seu clitóris, e se arrepiou. Lenta e delicadamente, ele colocou o pau entre as coxas dela, puxou-a para si e começou a lamber as costas lisas da garota. Meia-Noite foi sentindo o pau entrando, devagar, centímetro após centímetro... e... de repente.. uma dor insuportável a fez gritar. O hímen tinha se rompido. Carlos ficou imóvel, esperando que a surpresa da garota passasse, sentindo no pau o sangue quente e grosso.

"Calma, isso passa," murmurou no ouvido dela, sem tirar o pau. Lambeu dentro do ouvido, sentindo o cheiro da pele fresca e lisa da nuca, o cabelo grosso preso em trancinhas. Começou a mexer de novo, sem pressa; Meia-Noite sentiu o pau a preenchendo, mas a dor já não existia. Começou a mexer, instintivamente, as ancas; Carlos a penetrava com suavidade, sentindo a mucosa da vagina apertar seu pau, o canal estreito se abrindo como uma flor aos seus movimentos. Não queria gozar ainda; tirou o pau e fez sinal para que a menina trouxesse água numa bacia.

De joelhos, Meia-Noite lavou o pinto do seu novo dono. Ele o colocou novamente na boca da garota, esperando que ela fizesse o necessário. A pretinha fechou os olhos e chupou: estava se acostumando... Passava a língua pela frente do cacete, depois ia para as bolas, voltava para a cabeça e ia até o fundo.

"Bom animal... gostosa..." ouviu a voz calma e firme do dono. "Continue! Não vou gozar na sua boca... ainda." Quando estava prestes a gozar, tirou o pau e o apontou para o meio das tetinhas. "Ponha as mãos atrás das costas e levante as tetas! Isso..." Ele mesmo terminou, e o jato quente molhou o colo de Meia-Noite: espesso e branco, o sêmen escorreu pela barriga dela e chegou até o umbigo.

Carlos apertou um botão ao lado de sua cama; em instantes, a japonesa abriu a porta do quarto. "Está o.k.," disse ele. "Leve-a, faça–a se lavar, e ponha-a no trabalho: você sabe que não gosto de negras ociosas." Keiko pegou Meia-Noite pela coleira e saiu com ela; atrás da casa, havia uma torneira na parede. A moça lavou-se e recolocou a camiseta; os peitos molhados apareciam de leve por baixo do tecido fino. Seguiu Keiko até uma horta atrás da casa; ali estavam, trabalhando, quatro negras vestidas da mesma maneira que ela, com a coleira da fazenda fechada pelo cadeado.

"Esta é a 31," disse a japonesa. "Ensinem a ela o que já sabem... e sem muita conversa, ouviram?"

A que parecia a chefe do grupo fez que sim com a cabeça. A japonesa dirigiu-se ao escritório para continuar seu trabalho; as meninas cercaram Meia-Noite e quiseram saber de onde vinha. Ela lhes contou; das que estavam ali, duas tinham vindo da FEBEM de São Paulo. Uma delas perguntou:

"E a Sílvia, continua lá?"

"Continua," disse Meia-Noite. "Você conhece ela?"

"Claro," respondeu a outra. "Eu fiquei com ela uma semana Lavar a roupa, fazer os pés, não é?" disse sorrindo.

"Isso mesmo..."

"Agora vamos.. temos muito o que fazer," disse a que parecia a chefe. "Nós estamos cuidando das alfaces. Veja, você pega o cesto, vai tirando. Cuidado para não estragar as plantas!" E mostrou à recém-chegada como devia fazer.

A manhã passou-se ali; as meninas cuidaram das alfaces, depois foram para o canteiro dos tomates, e assim sucessivamente. A horta era grande, pois Carlos tinha muitas bocas para alimentar, e o restante era vendido na feira da cidade. Ao meio dia, uma cigarra soou, e as negras se dirigiram para o galpão onde era servido o almoço.

Todas as escravas da fazenda estavam ali: eram exatamente 31, contando com Meia-Noite. As que trabalhavam na cozinha haviam preparado a refeição, que vinha em grandes panelas fechadas. Cada uma pegou um prato de metal e uma colher de pau: a refeição compunha-se de arroz, feijão, ovos mexidos, salada, uma banana. As meninas sentaram-se no chão de terra batida e comeram com avidez: o trabalho físico era cansativo, mas a alimentação era bem melhor do que o que tinham lá de onde vinham. E, depois de dez dias no "curral de treinamento," como Carlos se referia jocosamente à saleta atrás das celas, aceitavam passivamente o que lhes fosse ordenado.

A cigarra soou novamente, e, depois de lavar os utensílios, as negras voltaram às suas tarefas. Algumas trabalhavam no pomar, cuidando das frutas; outras na horta; outras ainda na lavanderia e na sala de passar, pois a fazenda servia uma tinturaria da cidade da qual Carlos era sócio; outras trabalhavam no galinheiro, mexendo com ovos e pintos de dias; quatro trabalhavam na cozinha e uma era arrumadeira da casa grande, além de cuidar do alojamento de Keiko.

A fazenda dava lucros consideráveis, com despesas pequenas, pois as escravas não recebiam salário; às vezes, alguma precisava de remédios ou de ver o médico, e, uma vez por ano, iam ao dentista. Keiko cuidava da parte administrativa e de tudo o que se referisse às pretinhas, inclusive marcando num livro especial as datas nas quais haviam servido ao fazendeiro: este fazia questão de usar as negras em rodízio, de modo que nenhuma tivesse motivos para se sentir desperdiçada.

Capítulo 6

A cigarra soou de novo às seis da tarde. O sol estava se pondo, no crepúsculo magnifico do cerrado brasileiro. As garotas dirigiram-se para o "curral," como era chamada a senzala. Meia-Noite as acompanhou: tiraram as camisetas e entraram nos chuveiros, conversando em voz baixa. Meia-Noite notou algo estranho nos quadris de algumas das moças: aproximou-se de uma e perguntou o que era aquilo.

"Cinto de castidade," respondeu a outra. E mostrou o artefato: uma peça de metal na cintura, da qual saía uma faixa, também de metal, de uns quatro dedos de largura, que cobria o sexo; havia furos para urinar, mas, como a faixa estava bem perto da vagina, era impossível tocar qualquer ponto dela. Um cadeado na altura do quadril garantia o bom fechamento da peça.

"E por que você está usando isso?"

"Castigo," disse a garota, com ar desconsolado. "A Keiko soube que eu andava me masturbando. Alguém denunciou, não sei quem foi," completou, olhando triste para as outras. Meia-Noite lembrou-se de uma das frases que repetira até a exaustão: "é proibido se tocar!"

"Nossa, mãe!," disse ela espantada, pois jamais vira algo como aquilo. "E é ruim?"

"Horrível," disse a outra. "Não dá nem para mexer no grelo, quanto mais por o dedinho. A gente fica morrendo de tesão, mas só a Keiko tem a chave dessa coisa." Meia-Noite entrou no chuveiro e lavou-se; seus olhos captaram algo que se mexia entre as coxas da garota que tomava banho ao seu lado.

"E isso?"

"A correntinha?" perguntou a menina. "Repare... todas nós usamos... ganhamos depois da primeira vez que o Sinhô faz sexo com a gente." Era uma pequena corrente dourada, presa a um aro de metal, que passava através do lábio da vagina. O último elo era maior, e Meia-Noite logo ficou sabendo que servia para prender a correntinha numa outra, mais longa.

"Como, mais longa?" quis saber.

"Bom, eles usam de muitos jeitos," disse a moça, enquanto lavava o cabelo. "Às vezes, prendem duas ou três meninas para corrermos juntas; também prendem na carroça, quando a Keiko quer dar um passeio, e a gente puxa..."

"E tem também o tronco," disse outra, mais magra, que se lavava no mesmo chuveiro. "Quando você é castigada ali, a Keiko prende essa correntinha no tronco.. e se a gente pula demais, puxa a buceta. Entende?"

"Minha nossa," fez Meia-Noite, passando sabão nos pés.

"É, eles não são moleza, não," disse a do cinto. "Outro dia, a 16 foi para o tronco. Não sei o que ela fez, mas a Keiko estava furiosa.! Ela contou depois que o puxão da correntinha na buceta doía mais do que o chicote... e olhe que ela apanhou umas cinco lambadas!"

Assim terminaram o banho; colocaram camisetas limpas e foram para o jantar. Era a mesma comida do almoço, com algumas frutas a mais; sentadas no chão, as meninas comiam e conversavam,. refazendo-se do duro trabalho do dia. Terminada a refeição, cada uma lavou sua colher e seu prato, que ficavam guardados em prateleiras na parede. Dispersaram-se pelo galpão: algumas passavam lixa nos pés, pois Carlos não tolerava asperezas, mesmo que trabalhassem descalças; outras passavam Brasso no cadeado da coleira de suas companheiras, já que deviam estar sempre brilhando.

Meia-Noite andou pelo curral, e reparou que, em cada cela, havia três ou quatro algemas penduradas nas paredes. Quis saber para que serviam; uma das meninas lhe contou que, ao vir fechar as celas, Keiko atava as mãos das escravas atrás das costas, de modo a impedir que se tocassem durante a noite. E, se alguma tentasse se satisfazer com outra, a denúncia era quase certa, após o que o cinto viria adornar as ancas da negra assanhada.

"Me explica uma coisa," disse ela a uma das que lixavam os pés. "Por que vocês falam para os brancos que tem alguma menina querendo coisa com a outra?"

"Porque se você somar dez denúncias, ganha uma noite com o Sinhô na cidade. Ele leva a gente ao cinema, ao MacDonald's, e a gente vai sem coleira, para não dar na vista. É muito legal!"

Meia-Noite calou-se. Apesar da lavagem cerebral de dez dias pela qual passara, não conseguia acreditar que suas companheiras pudessem se trair umas às outras por um Big Mac. E cinema... ela nunca entrara num, não sabia o que era isso. Mas aquela fazenda, com seus costumes estranhos, parecia funcionar bem: as meninas não pareciam insatisfeitas, a comida era razoável, e, quanto ao trabalho, ela sempre trabalhara duro, desde que chegara ao mundo. Mesmo as que usavam os cintos pareciam conformadas; soube depois que uma delas já estava com ele há quase três semanas, esperando a japonesa resolver tirar aquilo dela.

A noite caiu sobre o cerrado. Às oito horas, Keiko veio guardar as escravas, e escolher uma para o Sinhô e outra para ela mesma. As negras entraram nas celas; uma a uma, estendiam as mãos, viradas de costas, para receber as algemas. Em cada cela dormiam três ou quatro; Meia-Noite ouviu os clics das algemas e o blam, blam, das portas gradeadas sendo fechadas. Sua cela era a última, junto com a 29 e a 30: Keiko as colocava na ordem de chegada. Ela sentiu quando as algemas se fecharam sobre seus pulsos; era bastante incômodo, mas não havia outro jeito. Deitou-se de bruços sobre a palha, e logo mais o curral estava mergulhado em completa escuridão: a japonesa havia saído, levando consigo a 6 e a 14.