COVID19 - Nem Tudo Foi Mau

Informação da História
Irmão e irmã apaixonados e confinados.
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Este relato é um produto da imaginação do autor.

Infelizmente a pandemia é real, mas o relato não está inspirado em nenhum caso que o autor conheça.

Qualquer semelhança com algum possível caso real, só poderia ser uma coincidência.

Preferia ter classificado este relato como Romance, mas é um caso de incesto. Se isso o(a) incomoda, este é o momento de retirar-se.

A história passa-se em Espanha numa cidade cujo nome não é mencionado.

Esta é uma história de amor em que o sexo acontece naturalmente entre dois irmãos que se adoram, como consequência do que sentem um pelo outro.

Não espere que ao fim de meia dúzia de linhas comecem as cenas de sexo, nem atributos físicos de tamanhos desproporcionados... ou outros absurdos.

Todos os intervenientes em cenas de sexo têm mais de dezoito anos.

Uma cidade espanhola, 22 de março de 2020

"Meu Deus Leo! Estou a ficar paranoica."

"Pois vais ter que aguentar uma longa temporada."

"Mas isto não acaba no dia 31?"

"Não. Já verás que a vão prolongar muito mais tempo."

"São uns mentirosos!"

"Não são. Disseram que seriam 15 dias pro-rro-gá-veis. Assim as pessoas podem ir-se adaptando gradualmente à ideia de estar confinadas em casa e aguentam melhor o que está para vir. Não creio que acabe antes de que passem três meses. Mas isso é só uma previsão minha sem nenhuma base científica."

"Não sei como vou poder aguentar."

"Não tens outro remédio. Comigo aqui apoiando-te não te sentes melhor?"

"Sem ti... Bem, acho que já me tinha suicidado."

"Que disparate! Olha... Jogamos uma partida de xadrês? A última vez ganhaste-me tu e quero a desforra."

"Não! Tu deixaste-me ganhar e detesto isso. Fazes-me sentir uma miúda de 8 anos, ou diretamente uma atrasada mental. Detesto atitudes paternalistas."

"Nada disso. Não te deixei ganhar. Estava com excesso de confiança e baixei a guarda. Quando quis dar a volta à tortilha já era tarde."

"Bah! Pensas que sou parva."

"Vá lá! Não me trates mal, que não fui eu que decretei o estado de alerta." Fiz-lhe cócegas na barriga.

"Hahaha! Ai que parvo! QUIETO! Bem! Traz o tabuleiro então."

"Adoro quando tentas zangar-te comigo. Por mais que tentes não consegues." Ri-me.

"Oh que irritante! Hehehe, como poderia zangar-me com a pessoa que mais adoro neste mundo?"

Passadas quase duas horas terminamos o jogo e ganhei eu.

Sandra é a minha única irmã, quatro anos mais nova que eu.

Para mim é a mulher mais linda que conheço, talvez porque estou apaixonado por ela desde os meus vinte e um anos, mas nunca lhe disse nada.

É muito inteligente, licenciada em filologia hispânica e tem um mestrado em formação de professorado. É muito fluente em inglês e francês e razoavelmente em alemão. Levava dois anos exercendo como professora num instituto da nossa cidade, cujo nome não vou revelar neste relato, até ao momento em que se fecharam todos os colégios do país, devido ao problema do COVID19.

Estava confinada em casa comigo. Não com os nossos pais, muito contra a vontade deles.

Eu desconhecia, mas também ela estava perdidamente apaixonada por mim.

Tal como eu, desejava exteriorizar os seus sentimentos, mas não se atrevia. Não sabia como fazê-lo, sem se arriscar a destruir a nossa relação.

Embora estivesse confinado, eu continuei sempre a trabalhar, porque o faço desde casa, online.

Tenho uma dupla licenciatura em engenharia civil e arquitetura e trabalho para uma importante empresa com sede em Portland, Main, USA. Faço imensos projetos urbanísticos, todos eles respeitando as condições ambientais e os ecossistemas, criamos infrastruturas para que os futuros moradores façam uma reciclagem inteligente... Tentamos utilizar ao máximo as energias renováveis, integrando aspectos bioclimáticos, térmicos y lumínicos e desenvolvemos o mais possível a domótica. Sou extremamente bem pago. A empresa que me contratou é de investidores americanos e canadianos que, ao contrário do que é habitual, preocupam-se mais com a sustentabilidade e o respeito pelo planeta, do que com o lucro fácil. De vez em quando aparecem empresários decentes... Tive a sorte de os encontrar.

"Mana, vamos fazer a lista das compras para segunda-feira?"

"Calma. Ainda hoje é sábado e temos coisas suficientes para três dias. Para hoje ao almoço temos uma bolonhesa feita. só falta cozer a pasta. Queres macarroni no forno?"

"Pode ser."

Temos um vizinho que está desempregado e pagamos-lhe bastante bem para que nos faça as compras.

Fazemos-lhe os pedidos por email e ele deixa-nos as compras à porta. Tem um cartão de débito de uma conta nossa, especificamente criada para pagar nos comércios. A ele pagamos-lhe em dinheiro físico, que lhe deixamos dentro de um envelope e metemos por baixo da porta, quando ele vem com as compras.

Tocou o meu telemóvel. Pus o som em mãos livres.

"Olá Celi. Como estás?"

Era a minha antiga namorada Araceli.

"Mal! Tenho saudades tuas, quando podemos falar em pessoa?"

"Pois isso tens que perguntar ao governo. Sabes a situação que há."

"Faz a mala e vem viver comigo, ou deixa-me ir eu para aí de mala feita. A nossa separação foi um erro e quero voltar contigo."

"Sabes Celi, para que duas pessoas possam ter uma relação, faz falta que ambas queiram. Eu não quero e recordo-te que foste tu quem decidiu separar-se."

"Por isso te telefono agora. Equivoquei-me e quero voltar contigo. Peço-te perdão..."

Disse com voz muito sensual.

"Espera, espera, espera. Eu não ando aqui ao sabor da tua corrente. Desejo-te muita sorte, que encontres a tua meia laranja e peço-te que te esqueças de mim. Que tenhas um bom dia. Corta tu a chamada. Não quero ser descortês."

"Leo... Não podes perdoar-me?"

"Não há nada que perdoar. Fizeste o correto, de uma forma muito educada e civilizada. Na verdade fizeste-me um favor. A nossa relação foi um erro desde o princípio e eu já tinha decidido cortar."

"Ando que trepo pelas paredes! Necessito uma boa foda. Dessas que só tu me sabes dar e sonho com os teus minetes. Prometo que te dou o meu cuzinho de vez em quando."

"Celi! Já sabes que detesto que fales assim e já não sou candidato a nada que envolva a tua pessoa. Já não me excitas com esse tipo conversa. Adeus. Corto aqui."

A minha irmã olhava-me estupefacta.

"Parece que ao menos algumas coisas funcionavam bem entre vocês. Hahaha! Que ordinária!"

"Pois, mas a convivência não é só sexo. Se ela não tivesse cortado comigo, tinha eu cortado com ela. Era uma relação vazia. E não há volta atrás. Se voltar a chamar, atendes tu e dizes-lhe da minha parte que me deixe em paz."

"Nem penses. Não quero envolver-me num assunto tão delicado... Mas tenho pena."

"Deixa-te de cinismos. Sempre a detestaste. Mas seja como for, só quero viver contigo. Entre TODAS as pessoas que conheço, és a única que vale a pena. Nunca te deixarei sozinha enquanto durar esta pandemia. E quando acabar o confinamento espero que fiques a viver comigo,"

"És um amor! Desde que me resgataste das garras daquele maldito, tens sido um apoio inestimável para mim."

"És a minha irmã pequenina. Tenho que te proteger. É a minha obrigação."

"E sempre o fizeste. De toda a vida!"

Abraçou-me chorando.

"Pronto... Chora no meu ombro. Sempre estará aqui para ti, quando quiseres chorar. Vá! Deixa-me limpar essas lágrimas, minha mimalhona."

"E agora com o COVID19, se não ficar pirada de vez, será graças a ti. És o meu salvador."

"Sabes que os velhos detestam que não estejas em casa com eles."

"São uns egoístas. Passam o tempo a discutir por coisas sem importância, criam um ambiente insuportável e queriam-me lá para os servir. Já podem esperar sentados."

"Bem... Deixa isso para lá. Vamos fazer uma viagem esta tarde?"

"Droga? Desde quando te...?"

"Corta! Nunca provei nenhuma droga, nem penso fazê-lo. Vamos sentar-nos na sala e ponho um DVD que gravei, de uma viagem superinteressante de um casal alemão, Gunther Holtorf y Cristine, que viajaram durante mais de vinte e dois anos, num todoterreno Mercedes, dando a volta ao mundo(1)."

"Mas tu já o viste, não?"

"Ando com vontade de ver outra vez, mas contigo. Tu deixa-te mergulhar na história e vive-a, que é real. Não é uma telenovela nem um romance barato. É relaxante. Vamos chorar juntos, mas verás como nos sentiremos bem no fim. Perfeitamente relaxados. Chorar abraçados liberta tensões."

"Está bem. Vou fazer o almoço."

"Vamos os dois para a cozinha e fazêmo-lo juntos? Imagina que és a minha namorada. Vamos gostar de cozinhar juntos... My love."

"Mmmm... Que tentador!"

"Por isso não te admires que te roube um beijo de vez em quando."

"Não te atrevas!" Riu-se.

De repente virou-se para mim, abraçou-me forte e beijou-me na boca.

Correspondi com entusiasmo.

"EH! EH! EH! Sem língua! Sou a tua irmã pequena! Respeito!"

Disse-me fingindo-se zangada.

"Quem foi que beijou quem?"

"Eu, mas foi uma brincadeira e a tua reação foi desproporcionada. Não se te pode dar a mão. Apanhas logo o braço todo e..."

"E...?"

"Nada. Desculpa. Não tinha que te ter beijado dessa maneira."

"Sandra levamos imenso tempo aqui auto sequestrados. É normal que se nos disparem as hormonas. Há quanto tempo não fazes amor com ninguém?"

"Achas normal perguntar isso à tua irmã?"

"Acho. Somos dois adultos e habitualmente fazemos confidências um ao outro."

"Muitos meses. Desde que deixei aquele salafrário..."

"E contigo mesma?"

"Leo!"

"Porque és tão inibida? Toda a gente se masturba. Toda a gente normal, queria dizer."

"Faço-o quase todas as noites. Porquê?"

"Eu também. Mas não me satisfaz. É como ver televisão em vez de ir à rua. E quem é a tua inspiração quando esfregas o grelinho?"

"LEO! Chega! Muda de tema."

"Pois eu quando o faço penso em quem não deveria."

"Na Celi?"

"Não que horror! Quase sempre penso em ti."

"LEO!"

"É verdade. Desde que passaste os catorze anos, começaste a ser a minha inspiração. Sempre foste tão linda!"

"Bem Leo. Faz tu o almoço. Vou para o meu quarto e vou dormir todo o dia, para estar desperta de noite. Assim não tenho que me cruzar contigo."

"Sandra! Toma-me a sério. Podíamos viver juntos, como um casal normal. Eu nunca tive coragem para te confessar o meu amor, mas é chegado o momento. Aproveitemos a quarentena para vivermos a nossa primeira lua de mel e nem daremos pelo passar do tempo. Ninguém mais o saberá. Pensas que seríamos os únicos?"

"Adeus pervertido."

"Adeus. Pensa no que te disse. Sei que já estás a pensar neste momento e estás com uma luta interior, sem saber o que fazer, mas apetece-te aceitar a minha proposta. Só te travam os preconceitos."

"CALA-TE! És horrível!"

Saíu disparada e fechou a porta do quarto com grande ruido.

Quando acabei de cozinhar, pus a mesa para dois. Depois bati-lhe à porta do quarto.

"Vai-te embora!"

"Vem comer. Depois voltas para aí."

"Não!"

"Ok. Deixa que as paredes do teu estômago se comam uma à outra."

Quando acabei de comer comecei a lavar a louça, fazendo ruido de propósito.

Sandra veio à cozinha e sem dizer palavra serviu-se.

Não lhe dirigi a palavra. Só a olhei olhos nos olhos.

De repente levantou-se e veio abraçar-me.

"Adoro-te Leo, mas às vezes és horrivel!" Deu-me dois beijos de irmã.

"Quem é que dizia que nunca se casaria, por não poder fazê-lo comigo?"

"Era miúda!"

"Tinhas dezassete anos e com isso despertaste o intenso amor que continuo a sentir por ti. Com essa idade já há muitas mães com mais de um filho. Dizias isso, porque além de protegida, sentias-te amada por mim, ainda que não fosses consciente disso. E gostavas de mim fisicamente. Desmente-me se és capaz."

"Não me confundas! Estou com a cabeça feita num dezoito com isto do maldito vírus e deste isolamento forçado."

"Só te estou a obrigar a pensar. Não é um truque para me meter contigo na cama durante a quarentena e depois deixar-te por aí abandonada ao teu destino..."

"Qual é exatamente a tua ideia? Espera! Não me digas nada. Estás a rir-te de mim e isso é muito feio. Não se deve gozar com os sentimentos das pessoas."

"Falo o mais a sério possível. Estamos feitos um para o outro e só desejo viver contigo como minha mulher, hoje e sempre."

"Leo! Não jogues com os meu sentimentos."

"Não estive sempre na primeira linha de combate para te proteger, defender e mimar? Alguma das vezes em que me necessitaste te falhei? Já alguma vez te defraudei?"

"Nnnn... Não. Jamais!"

"Imaginas que pode haver alguém que te trate e te cuide melhor que eu? Não o tenho feito durante toda a tua existência?"

"Sim... Sempre!"

"Espera. Pensa em tudo o que te disse e pede conselho ao teu travesseiro. Não volto a dizer-te nada. Mas não te confundas! Não vou mudar de opinião nem de intenções. Repito! Não te direi nada mais a partir de agora, mas nem por sombras imagines que me desinteressei de ti. Isso não acontecerá NUNCA! Mas uma coisa é fazer-te uma proposta honestíssima, bem desde o fundo do meu coração e outra é assediar-te. Isso sim, seria uma canalhada indecente, que nenhum homem de princípios pode fazer a nenhuma mulher."

"E os velhos? E os nossos amigos e amigas? Tu pensas que podíamos ocultá-lo sempre?"

"Como eu trabalho desde casa, posso estar em qualquer parte do mundo, desde que tenha Internet. Se não te sentes cómoda nessa situação aqui, iremos os dois para onde tu quiseres. Assunto terminado. Alguma pergunta?"

"Nnnn... Não, mas..."

"Mas?"

"Mas... Nunca poderia imaginar algo assim vindo de ti. Tenho que meditar."

"Isso é ótimo. Quer dizer que não tomas decisões precipitadas e onde antes havia uma parede, agora há uma porta. Ainda fechada, talvez até trancada, mas tu tens a chave. Podes negar o que quiseres, mas sei que queres usar essa chave."

"Leo sem mentiras nem exageros, que sentes exatamente por mim?"

"Amo-te como irmão desde que nasceste. Ainda me lembro com saudade de te dar o biberon de vez em quando. Desde os teus dezassete anos, TAMBÉM te amo como homem. Ou seja, nunca deixei nem deixarei de te amar como irmão. As relações que tenho tido por aí não me duraram nada, porque sem querer começo a compará-las contigo e nenhuma consegue nem aproximar-se do teu nível. Mas Sandra, deixemos isso e pensa no assunto. Não quero que venhas influenciada por mim e que algum tempo depois te queiras separar. Tu não és uma mulher qualquer. És a minha adorada irmã e sempre terei esse vínculo contigo. Se não me quiseres terei um grande desgosto, mas se vieres comigo e depois me deixares, entrarei numa profunda depressão de que não sei como sairei, portanto enquanto não estiveres cem por cento segura não venhas. Deixares-me a mim, não é o mesmo que cortares com algum namorado por aí..."

"Ai Leo! Imaginas como estou por dentro?"

"Ao menos acreditas que a proposta que te estou fazendo é séria e real?"

"Sim Leo... Sem dúvida que sim, mas imaginas como me sinto?"

"Como qualquer mulher cabal em idênticas circunstâncias. Como se o planeta de repente ficasse virado do avesso! Não imaginas como me custou encontrar coragem para ter esta conversa contigo."

"Não estou com cabeça para pensar. Que tal se vemos o teu DVD? Não quero dormir agora, para não ficar com os sonos trocados. Quero dormir bem logo à noite."

"Sandra... Estás dececionada comigo?"

"Não. És humano e os humanos não mandamos no coração. O que estou é desconcertada. Não é uma situação fácil de assimilar."

"Bem. Vou tomar um café. Faço-te um para ti?"

"Não. Já estou demasiado nervosa, mas se me fizesses uma tília..."

"Agora mesmo."

Levantei-me para ir à cozinha.

"Leo... E se eu te disser que não?"

"Não te preocupes. Sobreviverei. A minha empresa propôs-me um contrato no Alaska, com ótimas condições e super bem pago. Levam meses insistindo... Se não puder viver maritalmente com a mulher que amo, vou para lá, ou para o Quebec, que também tenho outra excelente oferta. Deixar de te ver seria doloroso, mas o tempo tudo cura, ou isso dizem."

"Meu Deus! Não voltaria a ver-te..."

Estava visivelmente triste.

"Dificilmente... Ou se calhar não!"

"Que queres dizer com "ou se calhar não"?"

Calou-se tapando a boca com a mão. Começava a vislumbrar...

"Isso só dependeria de ti."

"Como assim? OH!"

Calou-se e olhou-me com os olhos muito abertos.

"Sim Sandra. É o que estás a imaginar."

"Ou seja... É mesmo a sério! Agora sim, estou assustada."

"Mas que pensavas? Que eu era um irresponsável capaz de jogar com os teus sentimentos, brincando com algo tão sério?"

"E os velhos? Que lhes diríamos?"

"A verdade."

"Ai isso não! Não me atreveria. Não seria capaz de voltar olhar-lhes para os olhos."

"Não falemos disso de momento. Enquanto não souber a tua decisão, para quê preocupar-me com uma reação dos velhos, que provavelmente não vai ter lugar?"

"E se eles aceitassem bem a coisa?"

Começava a adaptar-se à ideia...

"Poderiamos ficar aqui a viver juntos. Ou onde tu desejasses."

"Não consigo assimilar isto. Nunca poderia falar com eles sobre uma coisa assim."

"Se tu me aceitares, falarei eu com eles. Se quiseres, sem a tua presença. Aguento eu o embate. Se aguentei uma navalha a três centímetros da aorta e uma perfuração do pulmão, posso aguentar qualquer coisa. Espera. Fazemos uma pausa para eu ir preparar-te o chá e fazer o meu café."

Uns minutos depois, sentei-me ao lado dela com as bebidas.

"E que dirias aos velhos?"

"Primeiro contava-lhes a nossa decisão, dizendo-lhes que não perdessem tempo em tentar dissuadir-nos."

"E se reagissem mal? Que é o que certamente iria acontecer."

"Perguntava-lhes se preferiam perder os seus dois únicos filhos. Se achavam melhor que fôssemos juntos para o outro lado do planeta, ou ter-nos aqui com eles, todos felizes, mantendo a nossa relação em segredo para o resto da família e amigos, atendê-los e a cuidá-los com amor, sem terem que ir para nenhum lar de terceira idade, quando já não se valessem por si mesmos."

"Isso soa a chantagem."

"Não. Soa a vive e deixa viver. É perfeitamente razoável e em Espanha o incesto nem sequer é ilegal, desde que seja entre adultos e consentido por ambas as partes, embora o casamento não esteja permitido porque somos irmãos."

"Como? Tens a certeza?"

"Não sou homem para deixar cabos soltos. Durante o tempo em que tive que amar-te em segredo, estudei a lei e falei com um advogado que conheço."

"Ou seja... Ele sabe dos teus sentimentos por mim."

"Não sou tão estúpido! Disse-lhe que estou a escrever uma novela e necessito informação. Perguntei-lhe bastantes outras coisas não relacionadas com incesto, para ele não desconfiar. Confirmou-me que é legal, mas o casamento no nosso caso está proibido."

"Então se nos denunciassem...?"

"Nenhum juíz admitiria o caso a trâmite. É cem por cento legal. Mas há uma coisa que tens que saber, querida Sandra..."

"Quê?"

"O que decidirmos é um problema nosso, mas não quero ter filhos contigo, porque ninguém deve ser posto neste mundo numas condições assim e também pelos perigos genéticos associados à consanguinidade. Não quero plantar borbones(2) no planeta. E teríamos que lhes mentir. Não podes dizer a um filho que és também sua tia e que o seu pai é seu tio. Iriam sofrer bullying escolar, seriam marginalizados, teriam montes de complexos, etc."

"Lógico que não! Eu farei uma laqueação de trompas."

"Tu farás? Então já decidiste que aceitas."

"AI! Não me baralhes!"

"Ou seja, tu é que dizes as coisas e eu é que te baralho." Ri-me.

"Farei isso, se formos para a frente com o que me propuseste. Deveria ter dito faria."

"Sabes Sandra? Começo a ter esperança."

"Mas tu e eu a vivermos debaixo do mesmo teto... Família e amigos iriam desconfiar e andaríamos na boca do mundo."

"Oficialmente não viveremos debaixo do mesmo teto. Tu vives no 5º A e eu no 5º B. Versão oficial: Somos dois irmãos, ele solteiro e ela divorciada, que passaram por relações amorosas desastrosas e que, pelo menos de momento não querem relações amorosas. Ela é uma mulher maltratada, todos os nossos conhecidos o sabem, e ele é o irmão que a protegeu e em quem ela confia cegamente. Também o sabem. São vizinhos em apartamentos separados, mas ao lado um do outro, o que é muito importante para ela, porque ainda está muito traumatizada e necessita sentir-se protegida. Se os velhos se portarem bem, podemos tentar aguentar a coisa assim. Caso contrário, piramo-nos para muito longe e eles que se apanhem por sua conta e comam os seus preconceitos com batatas e molho alioli."