COVID19 - Nem Tudo Foi Mau

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Eu nem acreditava no que ouvia. Sandra abanava a cabeça e olhava-me furiosa.

"Sabes Nuria, teremos as coisas organizadas de tal forma, que cada um de nós poderá receber as visitas que quiser, sem que ninguém sequer se aperceba e sem que ninguém se cruze com ninguém...Os nossos quartos estão cada um no seu apartamento e como as casas são simétricas, está um numa ponta e o outro na outra."

"Bem... Sim... Com toda essa privacidade, espero que algum dia me convides para... Tomar um café. Hihihi!"

Sandra estava que trepava pelas paredes.

"Quem sabe Nuria? Quem sabe? O mundo dá muitas voltas."

Sandra fulminou-me com os olhos eu sorri-lhe divertido.

"A verdade é que vocês sabem organizar-se."

"Sabemos! E temos uma disciplina que nos ajuda imenso com o confinamento. Isto da ginástica obrigatória, a rotina dos pequenos almoços juntos e algumas outras coisas é fabuloso."

"Que pena. Sempre foste o meu heroi. Tinha tanta esperança que algum dia os astros se pusessem em conjunção para nós e agora que cortaste com a Céli..."

"Não a Céli cortou comigo, mas fez-me um grande favor."

"E não podemos tentar...?" Calou-se.

"Sinto muito Nuria. Gosto imenso de ti como amiga, mas... Mas só isso. E uma vez que tens esse tipo de sensibilidade em relação a mim, para teu bem e exclusivamente para teu bem, não esperes o tal convite para vires aqui... Tomar um café. Há chamas que se devem alimentar, mas há outras que se devem apagar, para evitar traumas e malentendidos."

"Bem já vejo que me estás a despachar..."

"Nada disso Nuria, simplesmente..." Cortou-me a frase.

"Bem Leo desculpa o meu atrevimento. Não devia ter telefonado. Nunca me senti tão ridícula."

"De nenhuma maneira Nuria. És uma boa amiga e sinto-me muito lisonjeado com as tuas palavras. Sinto dececionar-te, mas o meu coração não tem um chip programável. Espero que um dia, mais cedo que tarde, encontres a tua meia laranja. Um abraço."

Sandra riu-se com desdém.

"Essa idiota quer meter-se debaixo de ti como seja... Uma descarada! Como se atreve a cobiçar o que me pertence?"

"Ela não pode nem imaginar que te pertenço."

"Isso! Defende-a!"

"Reconhecerás que foi muito fina e diplomática."

"Sim, mas demasiado explícita para o meu gosto."

"Adoro essa pontinha de ciúme! Mas só uma pontinha. O ciúme é como o gengibre. Um toque é delicioso, mas em excesso torna o prato incomestível." Abracei-a. "Tal como disse à Celi, quando um de dois não quer, não há relação possível."

"Tiveste muita pinta! Não! TENS muita pinta. E acabas de inventar a solução para nós. Vou mesmo organizar-me para dar aulas por videoconfência. Tenho colegas que seguramente vão querer juntar-se comigo para fazer o mesmo desde as suas casas. Podemos montar uma espécie de núcleo de professores online e viver disso."

"Claro. Já pensava propor-te isso. Se o vosso grupo cobrir todas as matérias de vários anos letivos, serão como um instituto online. Horários organizados de forma a que nenhum de vocês interfira com as aulas dos outros... E eu faço-vos uma página web decente..."

"És um génio Leo! Assim já os velhos não vão desconfiar que somos amantes."

"E Sandra, quando se der a abertura das aulas, o ensino presencial será um caos. Colégio aberto, contágios, colégio fechado, quarentenas... Uma puta merda e não te quero contagiada! És o bem mais precioso e adorado que tenho! Não posso nem imaginar que te aconteça alguna coisa. Trabalhamos os dois desde aqui e desfrutamos um do outro, sem riscos desnecessários."

"Como te amo meu Leo querido! Sempre pensando em mim e protegendo-me!""

"Vamos mandar abrir uma porta de comunicação interior entre as duas casas. Mas ninguém saberá que está aí. Estarão a olhar para ela e não a verão. Depois explico-te. Existe em vários projetos meus e os clientes estão contentíssimos."

"E temos que convidar os velhos a vir aqui a casa. Pensarão que vivemos cada um em sua casa."

"Claro! E vão estar tranquilos, porque eu tenho o meu irmão ao lado, para me proteger se fizer falta."

Levantei-me e peguei-lhe ao colo.

"Leo..."

"Schhhhhhhh..."

Deitei-a na cama, despi-a lenta e delicadamente. Enquanto a beijava apaixonadamente, reiterava-lhe o meu amor.

Ajoelhei-me ao lado da cama. Comecei a beijar-lhe as virilhas e lamber-lhe a sua maravilhosa vulva, enquanto aspirava o seu delicado aroma almiscarado de mulher excitada. Já conhecia esse aroma, das vezes em que a abraçava quando ela estava ligeira de roupa. Excitava-se facilmente comigo.

Formava-se-lhe uma abundante corrente de fluido vaginal, que eu lambia sem perder gota. Sandra é tão molhada, como deliciosamente perfumada.

Ela gemia baixinho e agarrava-se a mim como quando era pequenina e eu a abraçava.

De repente teve um súbito e para mim inesperado orgasmo, que eu não pensara que viria tão cedo.

Sandra hiperventilava, gemia, suspirava...

"Leo..." Sussurou-me ao ouvido. "Toma nota do que te digo. Se um dia me deixas suicido-me. Depois disto... Meu Deus! Nunca conheci um prazer assim. Quase me dá vontade de fechar os olhos e morrer aqui nos teus braços."

"Não te atrevas a fazê-lo Sandra Maria Muñoz!"

Disse-lhe rindo-me.

"Cála-te e entra em mim! Já! Necessito essa picha toda metida dentro de mim. Fode a tua mana! Fode-me toda! Foda-se! Se fores tão bom com a picha como com a boca, essa puta da Céli tem razão em querer-te de volta. O que ela não sabe é que já não estás disponível!"

Depois de três horas fazendo-nos de tudo... bem, quase tudo, estávamos os dois exaustos.

"Leonardo José, a partir de hoje considera-me tua esposa não oficial. Eu considero-me tua mulher para todos os efeitos."

"É o que somos! Não necessito papéis para nada. A nossa palavra e os nossos corações valem mais que qualquer documento escrito. Continúo a amar a minha querida irmã como irmã e a minha amada Sandra como mulher. Mas há uma coisa em que mudei de ideias."

"Não me assustes! Quê? Tem que ver comigo?"

"Sim... De certa forma. Logo que se possa saír, contigo ou sem ti, vou falar com os velhos. Têm direito a saber a verdade."

"Acho um disparate. Só de pensá-lo entro em pânico."

"Vou eu sozinho então. Não quero fazê-lo pelo Skype. Cara a cara, que é como tem que ser."

"Já pensaremos nos velhos, agora necessito saber uma coisa."

"Pergunta."

"Ouvi uma coisa que a Céli te disse." Ficou vermelha.

"Continua."

"Disse-te que te daria o cuzinho de vez em quando..."

"Sim. Disse isso. É uma coisa de que gosto imenso e ela não tanto, mas de vez em quando não punha objeções e com o tempo, acabou por gostar."

"E queres fazer isso comigo também?"

"Nunca fizeste?"

"Não. Tenho tanto de curiosidade como de medo. O animal do Rafael queria fazê-lo e nunca o deixei, mas contigo poderia tentar."

"Não há pressa. Vamos com calma. Os processos do amor com sexo têm o seu timing e temos que continuar a conhecer-nos nesse campo. Tudo o que fizemos foi delicioso, mas viver juntos como casal, requer um tempo de adptação que não se deve adiantar. Tudo deve ir fluindo naturalmente."

"Sim... Tens razão. Se não nos entrar a nenhum dos dois alguma doença má, temos várias décadas por diante."

Passaram-se mais três semanas desde a nossa primeira vez e nós continuamos no paraíso, desfrutando um do outro.

"Bem, amanhã já podemos saír, embora com restrições. Vou ver os velhos e contar-lhes o que temos. Vou sozinho ou vens comigo?"

"Até tremo... Mas é minha obrigação ir com o meu marido enfrentar a situação. Mas falas tu e eu só intervenho se vir necessidade. Tens muito mais lábia que eu. Que lhes vais dizer?"

"Vou atuar de improviso, mas basicamente vou-lhes dizer que se começam a meter-se nas nossas vidas, vamos para Montreal, Canadá."

Quando chegamos, Sandra estava que não sabia onde havia de meter-se, mas quando entrou acalmou-se.

"Olá meus amores! Que bom vê-los aqui de novo. Sandy tu vens para ficar não?" Disse a minha mãe.

"Não mamã. Fico com o Leo. Vejo-os com ótimo aspeto! Parecem mais jóvens."

"E vocês também estão ótimos. Que tal o confinamento?"

"Aguentamos bem. Com a Sandra nunca há mau ambiente."

"Adoro que se levem tão bem. Como sempre! Nunca vi dois irmãos tão unidos."

Comentou a mamã.

"Bem queridos pais, temos coisas que contar-vos."

"Boas ou más?"

Perguntou o meu pai, com o seu habitual toque de acidez.

"Isso já veremos na sequência da conversa. Como sabem a Sandra e eu somos vizinhos porta com porta."

"Pensava que estava na tua casa." Comentou a minha mãe.

"Sim está. Mas como sabem eu trabalho oito horas por dia online e ela de momento não pode dar aulas porque o colégio está fechado, mas não nos vemos tanto como seria imaginável. Agradeço que não me interrompam a partir de agora, porque é realmente importante o que tenho que dizer-vos e não quero dispersar-me.

Como sabem os nossos andares são idênticos, mas simétricos e ao fim de ambos os corredores há um quarto que está sendo usado como despensa em ambas as casas e têm uma parede comum. Aí vamos abrir uma passagem com uns oitenta centímetros de largura e um metro e noventa de altura que comunique ambos os quartos sem nenhuma porta, Haverá dois armários idênticos, que deslizam ao mesmo tempo quando acionados, montados sobre rolamentos revestidos de silicone, para não haver ruido. Quanto às portas de acesso de ambos os quartos aos respetivos corredores continuarão onde estão. Assim nenhum de nós invade a privacidade do outro e a Sandra sente-se muito mais segura, sabendo que estou alí a escassos metros."

"Essas portas estarão sempre abertas, exceto se algum de nós em determinado momento necessitar privacidade." Completou Sandra. "Ou seja, se eu deslizar o armário e a porta do corredor do Leo estiver fechada, obviamente não entro e vice-versa."

"Bahhh... Quem olhar para a base do móvel vai ver que está no ar."

"Não. Estará completamente pegado ao solo e será impossível empurrá-lo, sem antes o desmontar. Quando se aciona o motor elétrico, que vai ser comandado por uma app no telemóvel, os móveis serão elevados cinco milímetros e deslizam deixando a passagem à vista. Os móveis estarão ligados entre si e só se moverão em conjunto. Clarificando: os móveis sobem 5mm e depois deslocam-se 85cm e estão montados em estruturas de aço interconctadas e na posição extrema do outro lado voltam a pegar-se ao solo, para o peso dos móveis não deformar o silicone das rodas."

"Desenhar isso não é complicado?"

"Tenho isso montado em vários dos meus projetos. Funciona de luxo."

"Então vão viver mais ou menos juntos sempre?" Perguntou a minha mãe. "E se algum de vocês decidir casar-se?"

"Eu não me posso casar. Tenho uma relação... mas não nos podemos casar."

O que me faltava! Um homem casado!"

Disse a mamã com ar contrariado.

"De momento prefiro abster-me."

Respondeu Sandra.

"Querem calar-se e deixar-me acabar?"

Disse eu irritado.

"Temos pensado ter um quarto para vocês num dos andares. Como a casa é enorme, juntamos três salas, uma para transformar numa casa de banho impecável especialemnte desenhado para pessoas co dificuldades motoras e as outras duas para completar a suite, todas intercomunicadas. Entram pela sala, equipada com uma tele enorme onde podes ver o futebol sem nos dares cabo do juizo aos demais, sofás excelentes, passam ao quarto e daí à casa de banho. Só para vocês. Será mobilado como quiserem."

"Agradeço muito, mas eu não saio da minha casa." Disse o meu pai.

"Agora!" Respondi. "Vocês são e estão muito jóvens, mas quando tiverem oitenta e tantos anos... Preferem ir para uma residência? Podem estar comodamente, numas instalações fabulosas, sempre limpíssimas, comida excelente e saudável, com os vossos dois filhos a atendê-los, assistência médica impecável... e tudo o que fizer falta.

Tudo isso sem gastar dinheiro em residências para os dois. Uns trinta mil euros que poupam por ano, aos preços atuais... MÍNIMO!"

"E se te casas tu?"

Perguntou o meu pai.

"Não me vou casar e sobre isso de momento não quero falar... Continuando..."

"Espera aí! Não serás gay...?"

"Não. Não sou gay. Posso continuar?"

"Desculpa. Podes."

"Se neste momento vocês tivessem que estar de quarentena, ou contagiados pelo COVID19, já podiam estar connosco e uma vez recuperados, voltar para aqui. Temos dois quartos permanentemente preparados, prevendo essa possibilidade. Mas quando forem velhotes, a solução que vos oferecemos é ou não é excelente?"

"Sem dúvida! Vocês são os melhores filhos do mundo!"

Exclamou a minha mãe agradecida.

"Tenho a sensação de nos estás a ocultar alguma coisa."

Disse o meu pai desconfiado.

"Ricardo!"

Ralhou a mamã.

"Efetivamente. Este é o plano A. Vamos agora falar do plano B."

"Plano B? Porque será que me soa mal?"

"Caramba Ricardo! Cálate e escuta o Leo."

"Pai, tu que que és fluente em inglês vê estes dois contratos, que tenho pendentes de responder."

O meu pai começou a ler e foi mudando de côr.

"Ricardo! Que se passa? Estás pálido!"

"Um contrato para ir trabalhar no Alaska e outro para ir trabalhar no Canadá..."

Respondeu o meu pai com as lágrimas nos olhos.

"Preferia ir para o Alaska. Mas se aceitar algum, será o do Quebec. Mais precisamente em Montreal, porque a Sandra virá comigo. Felizmente somos os dois fluentes tanto em inglês como em francês, o que é indispensável para ter um trabalho decente na Província do Quebec."

"COOOOOOMOOOOO? Porque tem a Sandy que ir contigo?"

Perguntou o meu pai irritadíssimo.

"Sim, se o Leo for, eu também vou. A comunidade espanhola em Montreal busca desesperadamente professores de língua espanhola, que sejam fluentes em em inglês e em francês. Têm filhos que nasceram lá e querem que eles falem corretamente catelhano e conheçam bem a cultura espanhola. É muito bem pago."

"Mas que se passa nas vossas cabeças?" Perguntou a minha mãe. "Ambos têm bons empregos... E tu Sandy tens que estar sempre debaixo da asa protetora do teu irmão? Pobre homem! Não lhe deixas nem o sol nem a sombra!"

"Bem... Tudo o que contei sobre o assunto dos nossos dois andares é verdade, bem como os nossos planos para a vossa velhice, mas omiti algumas coisas. A nossa decisão sobre a escolha do plano A ou do plano B vai depender de vocês os dois. Só vamos para fora do país se o ambiente ficar irrespirável."

"E porque teria que ficar Irrespirável? Explica-te Leo."

Perguntou o meu pai.

"É simples. Vou ser direto e sem rodeios. Deixem-me falar até ao fim sem interrupções. Em primeiro lugar, o que vos vou dizer não tem volta atrás, por isso não gastem o vosso latim. Amo a Sandra desde os seus 17 anos, mas nunca lhe disse nada até há um mês atrás."

"QUÊÊÊÊÊÊÊÊ?"

Gritou o meu pai, dando um murro no braço do sofá.

"Meu Deus! Isso é que não por favor! É incesto... É aberrante! Que horror!"

Foi a reação da minha mãe.

"E mais ou menos na mesma época, eu apaixonei-me pelo Leo! Acho que inconscientemente sentíamos que o afeto que tínhamos um pelo outro e ia muito além do amor fraternal. Também não lhe disse nada. Acabei por casar-me com quem não devia, com os resultados que já conhecem..."

"E eu por ter relações equivocadas, como a Celi e... algumas mais."

Os nossos pais abriram a boca e abanaram as cabeças num gesto de desaprovação, incapazes de articular palavra.

"Atualmente convivemos como marido e mulher, dormimos juntos e fazemos tudo o que um casal normal é suposto fazer entre quatro paredes."

"Mas vocês perderam o juizo?"

Perguntou a nossa mãe chorando.

"E se ficas grávida?"

"Não fico. É uma condição que ambos pactamos para manter a nossa relação. E se ficasse abortava, mas não será necessário. Já falei pelo telefone com a minha ginecologista e logo que acabe o confinamento, vou fazer uma laqueação de trompas por histeroscopia, que implica que me metam uma sonda pela vagina e útero, sem cortes externos, com anestesia local. É rápido, cem por cento eficaz e não tem pós-operatório. Acabo de fazê-la, fico umas de horas em observação e se tudo estiver bem, vou para casa. Entretanto estou com a pílula."

"Bem... Continuo. Como vos disse, não vale a pena que argumentem. Estamos ante uma situação de facto que está já a decorrer. A pergunta é: Temos que ir para o Canadá, Alaska, ou algum outro destino longínquo? Ou vocês respeitam e aceitam a nossa decisão? Se nos respeitarem e aceitarem que vivamos assim, continuamos com o plano A."

"Para onde for o meu amor vou eu também! Com ou sem emprego."

Disse Sandra perentória, abraçando-se a mim.

"Imaginem-se com oitenta e tantos anos." Continuei. "Vivendo com os vossos filhos, que estarão encantados de vos atender e acarinhar. Vejam o caso da dona Florinda. Com dois filhos e uma filha. Indo de uma casa para outra, cada quatro meses. Duas noras e um genro. Alternativa: Ir para uma residência! Pobre mulher! Com oitenta e sete anos que tem!"

"Vocês vêem as notícias." Continuou Sandra. "Agradam-vos as residências de terceira idade? Com condições horrorosas, má comida e sem uma assistência médica decente, mesmo nas mais caras. Vejam a taxa de mortalidade de pessoas idosas nessas residências, desde que chegou o COVID19."

"Isso é uma chantagem indecente!"

Disse o nosso pai.

"Nada disso! Muito simplesmente, não podemos viver num ambiente de cortar à faca. Ou nos aceitam, ou teremos que debandar, já sabem para onde. Quinze dias depois da abertura de fronteiras, estaremos dentro de um jato a atravessar o Atlântico, com todos os visados e autorizações de residência na mão. Eu peço duas semanas de férias e a Sandra pede uma licença ilimitada. Não aceito que ninguém nos faça a vida impossível. NINGUÉM! Vocês incluidos."

"Para os familiares e amigos eu vivo no 5º A e o Leo no 5º B, os andares que nos deixaram os avós. Para toda essa gente somos apenas vizinhos e ninguém saberá que os apartamentos estão comunicados." Disse Sandra.

"Olha Ricardo, tu não te ponhas burro! Se eles são felizes, nós somos felizes.

Papá, onde é que tu podias ter um genro como o Leo?"

"Ou uma nora como a tua adorada Sandy?"

"Vocês não me baralhem!" Disse o meu pai irritado.

"Papá..." Disse eu. "Isto não tem volta atrás. Não traves batalhas perdidas. Aceita-nos e seremos todos felizes. E no futuro, para vocês isto será a solução perfeita. Contamos com vocês?"

"Não consigo assimilar esta desgraça."

O meu pai estava devastado.

"Pois assimila-a! Só há duas possibilidades na minha vida: Ter a minha adorada Sandra como minha esposa, embora sem papéis... ou morrer!"

"O mesmo se passa comigo. Ou nos temos um ao outro, ou suicido-me!"

Disse Sandra emocionadíssima, com os olhos marejados de lágrimas.

"Cala-te Ricardo! Não é nenhuma desgraça. Preferias que ela continuasse casada com o maltratador? Ou que se juntasse sabe-se lá com quem? Quem é que sempre a tratou com imenso carinho desde que nasceu? Sempre, sempre, sempre! Nunca os vi zangados, nem quando eram miúdos. Quem é que esteve a ponto de ser expulso do colégio, por dar uma sova a um colega que lhe levantou a saia no recreio? Quem é que estando na universidade ia de vez em quando buscá-la ao colégio, para que se sentisse protegida? Quem ia às reuniões com os professores, porque nós não cumpríamos com a nossa obrigação? Mea culpa! E TUA! Quem é que foi parar ao hospital com uma navalhada junto ao coração, quase dando a vida por ela? Já pensaste na tranquilidade que temos, sabendo como é amada e protegida pelo homem que escolheu? Só temos que os ajudar a manter o cenário com naturalidade, para que os familiares e conhecidos não desconfiem de nada. A vida é como é e só quero vê-los felizes!"

"NÃO! É UMA ABERRAÇÃO!"

"Escuta-me bem Ricardo Muñoz! Não vou perder os meus dois filhos por culpa da tua casmurrice. Se for preciso vou com eles para o Canadá e tu terás que te apanhar aqui sozinho!"